Criadora visionária, figura marcante da arquitetura e do design modernista, comprometida com os ideais políticos de esquerda, sócia do Le Corbusier, Charlotte Perriand inventou uma nova conexão entre arquitetura, artes, e movimentos da sociedade. Seu espírito inovador fez dela uma (r)evolucionária do design de interiores ao desenvolver móveis inspirados diretamente no mundo industrial.

A Fondation Louis Vuitton a homenageou através de uma retrospectiva, cuja visita guiada virtual está disponível pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=nKW81ThN6oI&t=7s

Porém, apesar do seu papel predominante no avanço do design e da arquitetura, seu nome foi muitas vezes relegado à sombra projetada pelo nome de Le Corbusier. Lembro-me ainda do meu estupor quando descobri que a famosa “Chaise Longue Basculante”, era uma criação dela, e não do seu sócio. Hoje ainda, este icônico móvel tem uma denominação que o atribui exclusivamente ao Le Corbusier.

Colocar o bem-estar do sujeito acima de tudo, e conectar o futuro e o passado para estar totalmente no presente foram alguns dos princípios inovadores e fundadores dos trabalhos da Charlotte. No Japão, ela encontrou ressonâncias para suas ideias de vanguarda na tradição japonesa. Provocada pelo desejo de desenvolver um novo modelo de sua cadeira, a então cadeira cromada transformou-se em uma espreguiçadeira de bambu.

O espaço criativo é um espelho de nossa sociedade, predominantemente tomada pelo gênero masculino, e do tardio reconhecimento dos direitos das mulheres. O exemplo da Charlotte não é um caso isolado. Foram muitas mulheres que tiveram seus trabalhos eclipsados a favor dos homens. Para citar só algumas: na literatura, Colette e Willy; nas artes, Margaret e Walter Keane, Camille Claudel e Auguste Rodin; na ciência, Rosalind Franklin.

 

O elo criativo da Charlotte, que procurou aproximar as tradições das inovações no intuito de se inscrever na contemporaneidade do seu tempo, assim como sua liberdade de pensamento, é uma inspiração para a luta das mulheres por um justo reconhecimento e uma verdadeira igualdade de gênero, na sociedade, e nas artes.