TOQUE DE ARTE / ETEL ADNAN / POMPIDOU METZ / INSTITUT DU MONDE ARABE
A artista visual e poeta Etel Adnan nasceu em Beirute (Líbano) em 1925, e faleceu mês passado em Paris. Está atualmente em cartaz em duas grandes exposições na França: “Luzes do Líbano” no Institut du Monde Arabe e “Escrever é desenhar” no Centre Pompidou Metz.
Ao longo de sua vida, produziu uma obra na encruzilhada da linguagem, da pintura e dos continentes. Começou a produzir literatura (poemas, ensaios, romances) antes de se abrir às artes plásticas (telas, desenhos, gravuras etc).
“Arte abstrata era o equivalente à expressão poética; não senti necessidade de usar palavras, mas sim cores e linhas. Não tive necessidade de pertencer a uma cultura orientada para a linguagem, mas sim a uma forma de expressão aberta”.
“Não precisava mais escrever em francês, ia pintar em árabe”.
Exilada nos anos 40 em Paris para estudar na Sorbonne, ela migrou nos anos 50 para a Califórnia onde lecionou filosofia da arte. Na década de 70, ela retornou ao Líbano, onde escreveu o romance Sitt Marie Rose e dirigiu as páginas culturais do diário Al Safa.
Embora sempre foi considerada por seus pares, somente no início de 2010 o mundo da arte a descobriu como uma artista visual. Com mais de 80 anos, ela começou a expor em instituições de prestígio: Guggenheim em Nova York, Centre Paul-Klee em Bern, Documenta 13 em Kassel ... Seu trabalho figurativo, misturando escrita e pintura é agora aceito e reconhecido. Isso tem a ver com as mudanças do mercado, que nos últimos anos voltou a dar crédito a uma certa pintura considerada reacionária pela vanguarda dos anos 1970, e também faz parte de uma consideração agora afirmada para as pintoras. Em quase 10 anos, o preço de suas obras se multiplicou por 4 ou 5.
Com isso, Etel Adnan se inscreve nas estatísticas que demonstram que as mulheres vendem hoje o dobro de dez anos atrás. No entanto, essas vendas representam apenas 2% do mercado global de arte. Nos anos 80, as Guerillas Girls publicaram “as vantagens de ser uma artista mulher”, lista na qual o 4° ponto é: “saber que sua carreira pode decolar quando tiver 80 anos”. Etel Adnan, como Louise Bourgeois, se enquadra nessa triste constatação. Espero que sua herança, além de artística, ajude a quebrar esse paradigma absurdo.