POVO INSONIA
MUSEU CHÁCARA DO CÉU / RIO DE JANEIRO / 2017
Sejam todos bem-vindos a essa casa, ao espaço museu ora transformado em ocupação do Povo Insônia!
Desde a sua criação em 2010, o personagem Insônia, figura mítica oriunda das forças da natureza e suas múltiplas manifestações, inspiradas na cultura afro-brasileira da mitologia dos orixás, revelou diferentes contornos na obra de Toz. Encarnação da própria ancestralidade, Insônia, em sua função metafórica de vigília do tempo, é a onipresença das frações do passado, do presente e do porvir.
Foi no ano de 2015, durante uma residência em Paris, França, que o artista sentiu-se provocado a criar a genealogia originária do personagem. Se por um lado Toz trazia em sua bagagem identitária o tambor cultural das miscigenações indígena, africana e europeia do povo brasileiro, por outro, a imersão nas paletas de cores e imagens de Château Rouge, bairro parisiense com forte presença de etnias africanas, atrelada aos ecos da marcha de migrantes, devido a conflitos ao redor do mundo, representaram a soma das influencias definitivas.
De lá pra cá a unidade matriz de Insônia se multiplicou como raízes fortes a irromper lugares, oralidade, modos de ser, fazer e celebrar, e fundou-se a concepção e o parto do Povo Insônia.
Através de uma narrativa ancestral, refez os passos dessa civilização, da herança simbólica dos seus antepassados até à diversidade dos seus descendentes contemporâneos, habitantes dessa casa museu. Como se de uma terra imaginária, o artista criasse uma grande mãe para os filhos do mundo. Não à toa sua musa se materializa na África, embriogênese de tantas culturas.
O trajeto afetivo da exposição convida o público a se fundir como parte integrante dessa civilização, com o intuito de enaltecer a sensação de pertencimento daquilo que significa os povos, e garante a continuidade da espécie humana: afeto, identidade e memória.
O percurso se principia com as Origens, onde telas de grandes dimensões apresentam um primeiro tempo, selvagem, orgânico e tribal. A grandeza das obras intenciona o mergulho do visitante nesse território psicológico e sensível: eis a sua iniciação.
Como num ritual de passagem, a instalação sonora ao ar livre, Ritos e Ritmos, instiga a experiência do antes espectador, agora metamorfoseado em elemento participativo dessa obra-civilização. São instrumentos convidativos para a revelação do conjunto na somatória das singularidades.
Novos galhos dessa imensa árvore genealógica são revelados em Retratos de um Povo, com as gerações que se seguiram e, por fim, o álbum de família daqueles que hoje promovem essa ocupação e recontam, por meio das suas histórias-imagens, fragmentos de nós mesmos.
A casa, arquitetação do invisível no visível, propõe a livre relação com o cotidiano do Povo Insônia. Ao compartilhar da refeição na sala de jantar, ou coparticipar da conversação na biblioteca, a interação é garantida pela presença das personas-obras, que ao terem seus corpos tridimensionalizados, rompem sua inércia, conquistando vida e densidade, através dos símbolos e tradições que atestam suas existências.
Os pés descalços reforçam o intrínseco vínculo com as raízes. Suas vestes sugerem a construção imaginária de personalidades, num respeitoso equilíbrio da individualidade do sujeito inserido no coletivo, uma ode à diversidade.
Em todos os ambientes uma exclusiva trilha sonora, de autoria de André Sampaio, baseada nos ritmos afro-brasileiros com contrastes contemporâneos, inspira a total ocupação espacial.
Sintam-se à vontade para unir os pontos de conexão dessa história e misturar suas narrativas pessoais, visões e sentimentos de mundo, pois é este o diálogo aberto e a conversa interminável propostos nessa exposição-experiência.
Vânia Matos, Agosto 2017.
✺ FICHA TÉCNICA ✺
ARTISTA - Toz
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO - Elodie Salmeron
CURADORIA - Elodie Salmeron
TEXTO - Vania Matos